Desembargador federal Reis Friede defende no CCJF atuação brasileira na solução da crise norte-coreana

Publicado em 05/10/2017

A possibilidade de que o conflito entre os Estados Unidos da América e a Coreia do Norte descambe para o confronto armado é remoto. A mensagem tranquilizadora foi passada pelo professor e desembargador federal Reis Friede, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR). Ele proferiu na manhã da quinta-feira, 5 de outubro, a palestra “A crise norte-coreana e o papel do Brasil”. A apresentação foi realizada no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) e contou com plateia formada, na maioria, por militares e estudiosos do tema.

Reis Friede, que integra a Sexta Turma Especializada do TRF2, abriu sua explanação explicando que a queda de braço entre os Estados Unidos da América e a Coreia do Norte deve ser classificada como o que os teóricos chamam de “conflito de quarta geração”.  Nesse tipo de disputa, o objetivo não é propriamente a derrota do oponente, mas, antes, a manutenção do status quo, o que, é claro, só se consegue por meio de acordo político-diplomático.

O palestrante esclareceu que a questão com a Coreia do Norte, que afeta de perto a Coreia do Sul, o Japão, a China e a Rússia, começou a se desenhar quando os EUA deixaram de incluir a região do nordeste asiático na sua zona de defesa prioritária, ainda antes da guerra que terminou com a separação da vizinha do sul. As Coreias se dividiram após uma guerra iniciada em 1950, encerrado com o armistício firmado em 1953.

Reis Friede apresentou e discutiu, em sua fala, exemplos históricos de ações diplomáticas, bem-sucedidas ou não, destacando episódios que poderiam servir de modelo para a situação atual entre Washington e Pyongyang. Dentre os casos narrados e debatidos, ele apontou a crise dos reféns do Irã. Após mais de um ano, os prisioneiros americanos foram libertados em uma negociação conduzida, segundo ele, com grande habilidade, em 1981, pouco após Ronald Reagan tomar posse na Casa Branca. Ainda para o professor e magistrado, Reagan foi um grande estrategista e o principal responsável pelo fim da Guerra Fria entre os EUA e a extinta União Soviética.

Solução em três passos

O desembargador federal Reis Friede concluiu sua apresentação defendendo que a solução para a crise norte-coreana pode ser alcançada em três etapas. A primeira implica um embargo econômico radical ao país de Kim Jong-Un. A China seria convencida a tomar tal medida por meio de garantias que seriam oferecidas pelos EUA, envolvendo, dentre outros pontos, a inclusão da potência asiática no sistema de governança global: “O tempo das sanções passou. Agora apenas o completo bloqueio econômico imposto pela China seria efetivo e eficaz. Evidentemente, para isso Pequim precisa receber uma sinalização de reconhecimento dos americanos, cuja atitude é considerada arrogante”.

O segundo passo seria dado com a atuação do Brasil que, para Reis Friede é um dos mais qualificados a auxiliar na costura de uma aliança entre os países envolvidos diretamente na crise: “O Brasil recebeu uma Embaixada norte-coreana em 2005 e, em 2009, instalou a Embaixada brasileira em Pyongyang, sendo o único país latino-americano com Embaixadas residentes nas duas Coreias. Além disso, o Brasil participou com extraordinário sucesso em mais de cinquenta operações de paz, com especial destaque para a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti”, lembrou o magistrado.

A terceira fase seria concretizada com o reconhecimento da legitimidade do poder de Kim Jong-Un e com o suporte econômico à Coreia do Norte, pelos EUA. No entendimento do palestrante, essa fase conclusiva asseguraria a paz na região: “O senso comum considera o presidente norte-coreano um louco, mas na verdade trata-se de um grande estrategista e de um verdadeiro mestre em geopolítica. Basta observar sua capacidade de colocar um país pobre no centro das atenções mundiais”.

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