integra a programação do
Retângulo largo na altura e bem curto no comprimento, de fundo rosa claro. Em laranja quase caramelo, a frase: VII ENCONTRO MULHER, PODER E DEMOCRACIA.

Na foto, uma mulher ordenha o seio esquerdo e, com a mão direita, segura um livro na direção do jato de leite. Ela está sentada, com uma das pernas cruzadas; veste vestido rosa claro. Possui cabelos castanhos escuros, tamanho médio. Seu semblante é de contemplação, ao olhar para a ação de “amamentar”. No segundo plano, uma caixa alta branca na frente de uma parede cinza.

 

artista
Adriana Granado

visitação
27 jan a 17 mar 24
terça a domingo
das 11h às 19h
abertura dia 27 às 15h

local
Galeria da Cela – térreo

valor
Gratuito

classificação indicativa AL (livre)

 

Sinopse

O ambiente é uma sala expositiva de museu ou galeria. A artista se encontra presente. No entanto, sua disposição corporal e vestimenta parecem a princípio identificá-la como musa ou modelo de alguma obra, ou seja, como tema, ao invés de figura criadora. A ação a seguir descontrói essa expectativa. O vídeo acontece em duas cenas, em looping, com um movimento semelhante em cada uma. O gesto é de amamentação; nos braços, no entanto, ao invés de um bebê, vemos os livros Arte contemporânea – uma história concisa, de Michael Archer e A história da arte, de E. H. Gombrich.

São eles que recebem os jatos de leite. Eles, no sentido amplo do termo: eles os livros, eles os autores, eles os artistas – homens, brancos, eurodescendentes  – que compõem quase exclusivamente os manuais de História da arte, essa História, com H maiúsculo, que esmaga a pluralidade de narrativas. Além do vídeo, serão apresentadas cinco fotografias em que se vê outros livros de história da arte ‘manchados’ de leite.

A maternidade, especialmente, ocupa um lugar central na obra. Apesar de ser um tema imenso e inesgotável, a História da arte vinculou a maternidade majoritariamente a uma figura específica: Virgem Maria. Composições com essa santa amamentando Jesus certamente poderiam compor uma única exposição. A nudez feminina, por sua vez, ganhou nessa História um campo de tematizações mais vasto, que cobre desde figuras mitológicas a mulheres de etnias consideradas exóticas. Seja espiritualizada e divinizada na figura da virgem santíssima, hiperssexualizada na figura de prostitutas ou até em sonhos escapistas do exotismo, a figuração das mulheres manteve-as aprisionadas na condição de temas.

Em Aleitamento, a aproximação da maternidade com a criação artística toma a forma de um ato crítico e provocador à narrativa oficial fixada nos manuais. Trata-se de diluir e desenrijecer as palavras de ordem de tais construções visuais e discursivas. O gesto, por certo, não sexualiza, mas tampouco espiritualiza ou idealiza o gesto de amamentação. Na performance, o derramamento de leite se converte em arma de combate.

Adriana Granado. Setembro/2022.

Mini Bio

O trabalho de Adriana Granado permeia o universo da fotografia encenada e da videoperformance. Ela usa o próprio corpo como tema para estabelecer diálogos entre identidade feminina e relações corpo-espaço urbano. A artista participou de exposições coletivas e individuais na França, Grécia e Brasil. É atualmente mestranda em Artes Visuais pela UFRGS.