Ouvindo as mãos – TRF2 realiza curso de linguagem de sinais para servidores que atendem o público

Publicado em 04/08/2010

         É possível citar vários motivos que expliquem o que levou 22 servidores do TRF2, que trabalham analisando e processando ações judiciais, executando procedimentos administrativos ou realizando atividades técnicas, a frequentar aulas sobre um assunto tão sui generis, tão distante de seu cotidiano como o do primeiro curso de Linguagem Brasileira de Sinais – Libras oferecido pelo Tribunal para seu pessoal, que aconteceu em julho. Pode-se dizer que tenha sido a inspiração do Decreto Federal nº 5.296, de 2004, que cuida da segurança, autonomia, acesso e mobilidade de portadores de deficiência em prédios públicos. Pode-se dizer que tenha sido o desejo de dar efetividade à Recomendação nº 27, de 2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que, entre outras coisas, especificamente fala da habilitação de servidores em cursos oficiais de Libras, para atender o público. E ainda, pode-se citar a pura e simples vontade de agir como instrumento da inclusão, da equidade social, contribuindo para garantir cidadania onde e quando ela é certamente muito necessária: dentro da própria casa da justiça.
         Seja como for, o que salta aos olhos quando se fala do curso que, em 10 aulas de três horas cada, treinou gestos com que os surdos brasileiros “falam”, é a alegria de todos os participantes, sem exceção, por aprender algo inteiramente novo e descobrir-se capaz de estabelecer uma comunicação mais completa com essa população especial, mesmo que ainda com certa imperícia: “Faz tempo que eu tinha vontade de aprender Libras, para usar na biblioteca, com os surdos que nos visitam”, afirma Glória Horta, da Divisão de Biblioteca do Tribunal, que concluiu a primeira edição do programa criado pelo Tribunal. “A gente entra na vida deles, interage muito melhor…até aprende a pensar por uma lógica diferente, usando as mãos em vez da voz para dialogar”, explica ela.
         O conteúdo do curso deu prioridade à conversação e a exercícios com músicas, e incluiu o estudo de elementos importantes para o uso no dia-a-dia e para o conhecimento da estrutura básica da língua, como “numerais cardinais e quantidades”, “dias da semana”, “cores”, “transportes”, “animais”, “vestuário”, “verbos”, “substantivos” e “adjetivos” e a chamada datilogia, ou seja, o alfabeto manual. Claro que em tão pouco tempo não é possível achar que se estará dominando uma nova língua, complexa como qualquer outra. É por conta disso que parte dos servidores que fizeram o curso de Libras do TRF2 já fala em dar seguimento à prática no Instituto Nacional de Educação de Surdos, no bairro carioca de Laranjeiras, uma instituição de referência no estudo de Libras vinculado ao Ministério da Educação.
        Mas, independente da eventual insuficiência de treinamento, para a professora  Maria José da Gama Brum Amaral, que ministrou o curso, o objetivo foi mais do que atingido. Com proficiência em Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais pela Universidade Federal de Santa Catarina, Maria José explica que a iniciativa do TRF2 promove a valorização das comunidades surdas, e da riqueza que há na diversidade. Ela, que tem uma irmã surda – são oito ao todo – e começou a estudar Libras para se comunicar com a caçula, sabe bem que isso é verdade…e sabe também que é na diversidade que se encontra uma das maiores chances de aprendizado com que o ser humano pode contar: “Nunca estive num tribunal antes. Tive receio, dúvida, por entrar num ambiente tão diferente. Depois me lembrei que quando esse tipo de coisa acontece, é sempre uma oportunidade maravilhosa, e fiquei grata por isso. Também vim aqui para aprender”, declara.
Maria José (2ª a partir da esquerda, agachada) e seus alunos fazem o gesto que significa “eu amo você”
Maria José (2ª a partir da esquerda, agachada) e seus alunos fazem o gesto que significa “eu amo você”
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