Juíza federal negra fala sobre preconceito e oportunidades para jovens da Cidade de Deus

Publicado em 29/08/2013

       No dia 28 de agosto, cerca de 40 jovens integrantes do programa Protejo, na Cidade de Deus,  receberam a visita da juíza federal Adriana Cruz, titular da 6° Vara Federal de São João de Meriti (região metropolitana do Rio de Janeiro), que contou um pouco da sua história e da sua trajetória até a magistratura. Adriana Cruz começou a conversa contando que, desde criança queria ser juíza: “Eu não me via querendo fazer outra coisa, esse sempre foi o meu sonho”.
         Após cursar Direito em uma faculdade pública, ela trabalhou como procuradora do Banco Central, até ter os dois anos de prática forense exigidos, na época, para o concurso da magistratura. A jovem juíza, que tomou posse no cargo com vinte e poucos anos, citou, como momentos gratificantes da sua carreira, aqueles em que julgou ações previdenciárias de trabalhadores rurais, que são sempre questões muito complexas.
        De modo descontraído mas incentivador, a magistrada narrou para os jovens que em sua família, de origem humilde, eles tinham um mantra, que era repetido todos os dias: “Se você quer ser alguém, você tem que estudar!”.

Preconceito racial na sociedade brasileira

       Em dado momento da palestra, a juíza, que é negra, foi questionada por um professor do Protejo sobre as dificuldades enfrentadas por essa parcela da sociedade e sobre o preconceito no mercado de trabalho. Adriana Cruz afirmou que nunca percebeu qualquer atitude preconceituosa contra ela desde o começo de sua carreira, mesmo antes de ingressar na magistratura, pois sempre foi submetida a avaliações objetivas nos concursos públicos que prestou.
       Entretanto, fez um relato, no mínimo curioso, que ocorre no dia a dia das audiências que preside: “Às vezes percebo um certo espanto por parte de alguns advogados quando entram na sala de audiência e deparam comigo. Acho que a expectativa inconsciente é de encontrar uma juíza branca”, disse.
       Para Adriana Cruz, o Brasil não é o país da impunidade, mas sim da seletividade, pois para o negro e o pobre a lei é implacável. Relatou também que temos a quarta população carcerária do mundo, e por isso não há que se falar em leniência com a criminalidade.
       O momento mais emocionante da palestra ocorreu quando a juíza reiterou que não é discriminada no Tribunal e deixou a seguinte mensagem para os jovens presentes: “Vocês não podem se esconder e achar que as dificuldades da vida são intransponíveis porque não são. Todos aqui presentes devem acreditar em seus sonhos”, concluiu a magistrada, que está cedida ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
       Ao fim, foi oferecido um lanche aos alunos e professores. As principais atividades realizadas no local são cursos de diversas áreas, como os de DJ, informática e dança. As aulas acontecem diariamente, das 8 às 17 horas, e os alunos com frequência regular recebem uma bolsa mensal.
       A conversa com os jovens integrou o projeto “A Justiça Federal vai ao Cidadão”, uma iniciativa da Coordenadoria dos Juizados Especiais Federais da Segunda Região, que compõe a estrutura do TRF2. Ela foi realizada na sede do programa Protejo, no bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste carioca, que atende adolescentes da Cidade de Deus e de outras comunidades das redondezas em situação de vulnerabilidade social. O programa é fruto de uma parceria do Ministério da Justiça com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
Adriana Cruz (à direita) recebe o carinho de uma jovem integrante do Protejo

Adriana Cruz (à direita) recebe o carinho de uma jovem integrante do Protejo
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