TRF2: CAIJF promove novas ações de cidadania no Complexo do Alemão

Publicado em 03/08/2017

O juiz federal Vladimir Vitovsky, titular da 9ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro e supervisor do Centro de Atendimento Itinerante da Justiça Federal da 2ª Região (CAIJF), a juíza federal Aline Miranda, coordenadora do Núcleo Permanente de Solução de Conflitos (NPSC2) do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) e a juíza federal Adriana Cruz, titular da 5ª Vara Criminal Federal da capital fluminense, deram início, no dia 02/8, a mais uma etapa de suas ações no projeto “Educação para a Cidadania” com os alunos do terceiro ano do nível médio do Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, em Ramos, no Complexo do Alemão. Inaugurada em 2010, o colégio foi construído na área que abrigava galpões da antiga fábrica da Poesi, que faliu nos anos de 1990.

Vladimir Vitovsky e Adriana Cruz integram a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CIDH) do TRF2, criada pelo presidente do Tribunal, desembargador federal André Fontes, para promover ações de cidadania em diversos segmentos da sociedade, entre os quais os jovens.

Interação

As atividades, didaticamente elaboradas para promover uma fácil interação entre os adolescentes e os magistrados, começaram com uma apresentação pessoal diferente, onde cada um fazia o papel de jornalista e entrevistava um colega.

Vladimir Vitovsky destacou que a decisão por este tipo de apresentação não teve como intuito apenas destacar o fato de que o nome do colégio presta uma homenagem a um profissional do jornalismo, mas promover uma dinâmica que trabalha “o apuramento do olhar sobre o outro, pois cada aluno, a partir de sua pequena entrevista, relata o que o colega gosta de fazer e o que gostaria de ser, fatores representativos para quem está na transição para a vida adulta.”

Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, (Pelotas, 18 de novembro de 1950 — Rio de Janeiro, 2 de junho de 2002), foi um repórter investigativo que fazia uma reportagem sobre a exploração de adolescentes em bailes funk, quando foi sequestrado, torturado e morto por traficantes.

O exercício da magistratura

Os 35 alunos presentes, após terem seus sonhos profissionais revelados pelos colegas, puderam ter uma noção do que é ser um profissional da magistratura. Escutaram então o depoimento de Adriana Cruz sobre o que é ser um juiz federal.

Ao falar sobre o exercício da magistratura federal, Adriana Cruz destacou, que na área penal, onde atua, um juiz ao proferir uma sentença condenatória deve estar sempre muito bem fundamentado. “Sua decisão demanda também toda uma técnica para calcular a pena que será aplicada à pessoa condenada. Esse cálculo é chamado de dosimetria, uma matemática legal, um cálculo que é muito difícil, pois é matemático, mas é também humano”, afirmou.

Adriana Cruz também destacou a necessidade de, ao final de um dia de trabalho, conseguir se desligar de suas deliberações diárias. “O juiz que conhece a realidade dos presídios, quando dá a sua sentença, sabe para onde está mandando aquela pessoa. Sabe que uma série de pessoas que estão ligadas àquela pessoa também serão afetadas. O juiz sabe a dimensão de sua decisão, mas ele tem que fazer seu trabalho com convicção e punir o crime e os criminosos”, destacou. No entanto – continuou -, ao chegar em casa após um dia de trabalho, não é fácil se desligar. Em suma, o juiz tem que aprender a administrar isso, para que suas decisões não se tornem uma fardo em sua vida”.

A juíza federal ilustrou sua explanação com a história do filme “Horton e o mundo dos Quem!”, que retrata a comunicação de um elefante, Horton, com o prefeito de uma comunidade de seres microscópicos que moravam dentro de um pólen, que se desprendeu de uma flor e começou a flutuar ao vento, colocando em risco toda aquela sociedade microscópica. Horton, conseguindo ouvir as vozes daqueles micro seres, resolveu atender ao pedido de socorro do prefeito, que tinha 99 filhos e morava numa casa que só tinha um banheiro. Horton não sabia nem o que era banheiro, mas percebeu que aquilo era um problema para o prefeito e resolveu ajuda-lo e ajudar a todos que viviam naquele pólen que foi levado pelo vento. Mesmo sendo impedido pela rainha dos animais daquela floresta – uma canguru que dizia que aquilo que a gente não vê e que a gente não sente, não existe, e afirmava que as coisas deveriam ser como eram – Horton, em comunicação com o prefeito, mesmo sendo, os dois, taxados como loucos em seus respectivos grupos sociais, conseguiram salvar aquele mundo microscópico.

Concluiu então a juíza que “essa história reflete muito o que é a atividade dos juízes, pois todos os dias chegam em nossas mesas processos com problemas de pessoas com situações de vida que desconhecemos por completo, com um tipo de dia a dia, de realidade, completamente diferente dos nossos. Mas não é porque aquela situação não faz sentido pra gente, que devemos pensar que a pessoa que está pleiteando algo, não precise da nossa ajuda. E nós, como magistrados, fizemos um juramento e nos comprometemos a solucionar conflitos”, destacou. Por fim, Adriana Cruz ressaltou para os alunos que “qualquer que seja a profissão, que escolhermos, ela deve ser exercida com compromisso, responsabilidade e dedicação”.

O depoimento de Adriana Cruz foi atentamente acompanhado pelos alunos e assistido por Aline Miranda e Vladimir Vitovsky
O depoimento de Adriana Cruz foi atentamente acompanhado pelos alunos e assistido por Aline Miranda e Vladimir Vitovsky

 

Em seguida, Vladimir Vitovsky, Adriana Cruz e Aline Miranda transmitiram aos alunos informações práticas sobre a função e o funcionamento da Justiça Federal. Por fim, lembrando que estavam ali em uma relação de troca de experiências, Vladimir Vitovsky propôs na dinâmica de encerramento do encontro, que os alunos escrevessem uma carta destinada aos juízes.

Apesar de a atividade ser livre, todos escreveram suas cartas, as quais revelaram suas reflexões. As cartas servirão como feedback e parâmetro para a continuação das atividades dos próximos encontros.

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