Um espaço de acolhimento e crescimento colaborativo: CCJF realiza balanço do II Enabijud

Publicado em 05/04/2024

 

A troca de conhecimentos e de experiências entre bibliotecários, profissionais da informação, magistrados e servidores representou um grande diferencial do 2º Encontro Nacional de Bibliotecas do Poder Judiciário (Enabijud), realizado no final de março no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF). O balanço é da bibliotecária e organizadora do evento Klara W. Freire. “O acolhimento e o caráter mais intimista do evento, sediado em uma local caracterizado pela promoção de arte e cultura, proporcionou falas bastante inovadoras e uma oportunidade ímpar de crescimento colaborativo. Muitas pessoas, ao fim do II Enabijud elogiaram a oportunidade de se ter esse espaço de fala”, destacou.

Organizado pelo CCJF e pela Rede Nacional de Bibliotecas Judiciárias (BibliomemoJus), com apoio institucional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), dos Tribunais Superiores e do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), o II Enabijud teve como objetivo proporcionar um espaço de reflexão, aprendizado e troca de experiências entre profissionais de bibliotecas que atuam no âmbito do Judiciário. De acordo com os promotores do evento, diante do contexto contemporâneo, no qual as bibliotecas enfrentam desafios constantes em relação à preservação da memória, à incorporação de inovações tecnológicas e à promoção dos direitos humanos, o tema escolhido, “Bibliotecas – Construindo Redes de Memória, Inovação e Direitos Humanos” foi crucial para guiar as discussões e atividades do encontro. Ao fim dos três dias do evento, houve ainda uma prática colaborativa entre os grupos de trabalho, além do encerramento do encontro e leitura de documento construído durante o congresso.

A abertura das atividades ficou a cargo do presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, desembargador federal Guilherme Calmon, que, na ocasião, fez algumas reflexões sobre o tema: “Livros físicos, livros eletrônicos. Biblioteca física, biblioteca virtual. São inúmeros os desafios com que atualmente a humanidade se depara, devido aos avanços tecnológicos e, simultaneamente, ao abandono de certos hábitos e práticas cultivadas durante a sua evolução”, destacou. A necessidade da busca do equilíbrio entre a modernidade e a tradição hoje é imperativa – continuou. Por fim, o magistrado enalteceu o evento, destacando que “essa é uma boa oportunidade de consolidar a realização do encontro e mostrar a indispensabilidade de termos a biblioteca como um ambiente democrático e plural”, afirmou.

Compuseram também a mesa de abertura, representando a desembargadora federal e diretora-geral do CCJF Simone Schreiber, Daniela Pfeiffer (diretora executiva do CCJF), Klara W. Freire, e o juiz de direito (TJSP), pesquisador e doutor em Direito Civil (História do Direito) pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), além de coordenador da Rede BibliomemoJus, Carlos Alexandre Böttcher: “O II Enabijud foi muito rico e produtivo. Além das palestras e visitas técnicas, os participantes puderam interagir de forma ativa com os demais, trazendo ideias e formulando propostas sobre várias questões importantes para as Bibliotecas do Poder Judiciário, que vão desde estrutura de recursos humanos e materiais até ações relacionadas a memória, inovação e promoção de direitos humanos”, destacou o magistrado.

Carlos Alexandre Böttcher também destacou o “brilhantismo” do Centro Cultural na organização do encontro, o que, segundo ele, contribuiu para o fortalecimento da atuação da rede BibliomemoJus e de suas ações. “Isso reforça o protagonismo do CCJF como centro de referência para a cultura e a memória do Poder Judiciário e da sociedade brasileira, reafirmando seu importante papel de preservação de memória e promoção de cultura e direitos humanos”, afirmou.

Para Luiz Guilherme Martins (SJSP), coordenador da Biblioteca da Justiça Federal da 3ª Região (TRF3) e mediador do painel “Inteligência Artificial, Transformação Digital e Experiência do Usuário nas Bibliotecas”, realizado no segundo dia do encontro, “o evento cumpriu seu papel na questão da inovação por trazer muitas propostas e sugestões de possibilidades de uso das inteligências artificiais, o que permitiu que muitos profissionais que nunca tiveram contato com IAs as tivessem pela primeira vez, o que fez com que pudéssemos discutir temas atuais de forma realista, mesmo os que antes pareciam ficção científica”, ressaltou.

Eliete de Sousa Pereira, mestra e analista em Biblioteconomia na Justiça Federal do Estado do Pará – 1ª Região e uma das palestrantes do painel “Bibliotecas no Contexto da Agenda 2030 da ONU”, realizado na manhã do terceiro dia do evento, apresentou uma revisão de literatura que analisou sete projetos de bibliotecas com o objetivo de relacioná-los aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O alinhamento ao compromisso global assumido junto à ONU é recomendado pela Federação Internacional das Instituições Bibliotecárias (IFLA). “A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa e descritiva realizada na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) e no Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU), entre 2015 a 2021. Resultado: o estudo identificou que as bibliotecas contribuem para a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, ressaltou.

Segundo a palestrante, a análise dos projetos bibliotecários permitiu identificar as principais atividades relacionadas, dentre os ODS, à educação de qualidade; à inclusão social e digital; a cidades sustentáveis; e à paz, justiça e instituições eficazes. “A conclusão é de que a classe bibliotecária tem se empenhado frente às recomendações da IFLA, porém, o estudo revelou que é necessário maior engajamento da categoria”, alertou.

Ainda com relação ao tema “Agenda 2030”, Leiliane Rabelo, bibliotecária do Tribunal de Justiça do Estado do Pará e mediadora do painel “As práticas das bibliotecas voltadas ao compromisso das ODS” afirmou que o encontro permitiu a discussão de aspectos teóricos e, sobretudo, aspectos práticos visando incentivar e orientar profissionais que atuam nas bibliotecas judiciárias a realizarem iniciativas inovadoras e de apoio a esse plano global. “Ao mesmo tempo, esses profissionais divulgaram as ações que já vêm sendo realizadas em diversas bibliotecas dos órgãos do Poder Judiciário. Isso foi muito importante, na medida em que permitiu conhecer o que de fato precisa ser feito e o que está sendo realizado no contexto das referidas bibliotecas”, explicou.

Pelo segundo ano consecutivo – continuou – “os órgãos do Judiciário brasileiro puderam fortalecer suas ações e debater temas de alta relevância para a melhoria dos serviços prestados pelas bibliotecas judiciárias perpassando questões técnicas, tecnológicas, sociais e culturais. Este ano, em especial, o CCJF, com a história e cultura que lhe são natas, cumpriu a missão de reunir profissionais e estudiosos que enriqueceram o evento com seus conhecimentos. Valeu a pena cada momento vivido”, frisou.

Já a apresentação de Leandro de Souza, bibliotecário da Biblioteca do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região – RN, e palestrante de painel sobre “A prática das bibliotecas voltada ao compromisso das ODS” teve como foco mostrar a ação estratégica de criação de um acervo bibliográfico cujas características atendem à ODS 16.10 da “Agenda 2030” (Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis, assegurando o acesso público à informação e protegendo as liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação nacional e os acordos internacionais).

O relato do palestrante destacou a história do acervo bibliográfico e a mudança de classificação da biblioteca institucional, desde 2021, para “biblioteca pública temática”, preservando tanto as características de um local especializado, como incorporando as propriedades de uma biblioteca aberta à comunidade. O objetivo principal do espaço é cooperar para o desenvolvimento social, trabalhar junto com os objetivos institucionais do TRT-21, e divulgar o trabalho do profissional de Biblioteconomia.

De acordo com o palestrante, a mudança de status da biblioteca facilitou a criação de um acervo diversificado, que tem por objetivo expandir o acesso ao público externo, permitindo empréstimo domiciliar a qualquer usuário. “É uma ação estratégica do TRT-21, na medida em que visa cooperar para o alcance dos seus objetivos institucionais, além de favorecer a visibilidade, não só da biblioteca como do próprio Tribunal, no desenvolvimento de uma boa prática que já está em processo de cadastramento na Lista de Boas Práticas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”.

Compartilhar: