Vitaliciamento de juízes federais em aldeias indígenas

Publicado em 26/08/2022

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), por meio da Escola da Magistratura Regional Federal (Emarf) realizou na última terça-feira (23) e na quarta (24), mais uma etapa do programa de vitaliciamento dos cinco juízes que tomaram posse em novembro de 2020. Promovida em parceria com o Centro de Atendimento Itinerante da Justiça Federal (CAIJF) – órgão vinculado ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do TRF2 (NPSC2) –, a atividade, coordenada pelo juiz federal Vladimir Vitovsky (titular da 9ª Vara Federal de Execução Fiscal da Justiça Federal do Rio de Janeiro – JFRJ), teve como objetivo o acompanhamento das atividades focadas no acesso à Justiça que vêm sendo desenvolvidas pelo CAIJF.

Na terça-feira (23/8), os juízes vitaliciandos estiveram em contato com representantes das secretarias de Saúde e de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher do município de Maricá/RJ, onde o CAIJF vem desenvolvendo ações com as equipes de Atenção Primária à Saúde e dialogando com as Coordenadorias da pasta Indígena e de Políticas Públicas para Igualdade Racial para futuras ações, no âmbito do Programa Interfaces Cidadãs, que promove capacitação em Justiça e cidadania. Na oportunidade, os coordenadores municipais traçaram um panorama para os vitaliciandos sobre a realidade do público-alvo de suas coordenadorias.

Já na quarta-feira (24/8), os juízes passaram o dia com os indígenas da etnia Guarani Mbyá das aldeias Tekoa Ka’Aguy Ovy Porã (Mata Verde Bonita) e Tekoa Ara Hovy Py (Céu Azul), situadas no município, conhecendo o modo de viver dessas comunidades. Os juízes em processo de vitaliciamento se inteiraram sobre hábitos, valores e as recorrentes dificuldades existentes na trajetória comum dos índios que vivem nas cercanias de grandes centros urbanos.

Representantes da Aldeia Mata verde Bonita reunidos com novos juízes
Representantes da Aldeia Mata verde Bonita reunidos com novos juízes

 

Capacitação

O Programa de Vitaliciamento tem por finalidade a capacitação de juízes que ingressaram na carreira da magistratura, visando ao desenvolvimento de competência técnica, de qualidades comportamentais e trocas interpessoais que demandam o exercício da judicatura. Vladimir Vitovsky destaca a importância desse tipo de vivência lembrando que, além de um conhecimento técnico de excelência, são necessárias qualidades como sensibilidade para as questões étnicas e sociais diferenciadas, e inteligência emocional no trato interpessoal com públicos distintos. Vitovsky menciona pontos da trajetória de evolução no exercício da magistratura, como a Resolução nº 287 do CNJ, de 25/06/2019, que estabelece procedimentos para o tratamento das pessoas indígenas no âmbito criminal do Poder Judiciário, sugerindo ao magistrado, sempre que possível, a realização de perícia antropológica, no intuito de fornecer subsídios para o estabelecimento da justa responsabilização.

Membros de comunidade indígena, representantes de equipes governamentais de Maricá e juízes federais da 2ª Região
Membros de comunidade indígena, representantes de equipes governamentais de Maricá e juízes federais da 2ª Região

 

O juiz destaca que “foi muito rica, essa primeira vivência com culturas diferentes, no âmbito do vtalicamento. Nas aldeias, vivenciamos repetidos momentos em que, apesar de todos pertencermos a uma mesma nação e nos comunicarmos em Português, situações ocorriam nas quais os indígenas falavam entre si em Guarani, o que, naturalmente, induzia-nos a buscar outras formas de compreensão, a fim de termos o entendimento de tudo que ali se processava, naquele conjunto de interações interpessoais”.

Fotos da aldeia Tekoa Ka'Aguy Ovy Porã (Mata Verde Bonita)
Registros na aldeia Tekoa Ka’Aguy Ovy Porã (Mata Verde Bonita)

 

O magistrado também lembra que “um julgador lida com a vidas das pessoas, famílias e grupos sociais, seja por questões materiais, patrimoniais ou morais, que possam estar relacionadas à garantia do bem-estar, à assistência e proteção social, à saúde, à proteção física, dentre muitos outros aspectos. Por isso é sempre importante oportunizar vivências desse tipo, com reflexões que possam contribuir com a humanização do Judiciário”.

Compartilhar: